As 5 Piores Crises Financeiras da História Moderna
Crises financeiras já não são mais novidade em nosso meio. Nossa geração já presenciou duas grandes crises que abalaram fortemente nossas vidas: a crise financeira de 2008 e a crise gerada pela pandemia. É unânime entre economistas que crises, antes de serem econômicas, são psicológicas, e para evitar que aconteçam, o ambiente econômico precisa ser seguro, estável, confiável e previsível. Excluindo causas extraordinárias, como doenças, o fenômeno das crises econômicas e financeiras é causado na maioria das vezes por simples sensações e pressentimentos, que se espalham como fogo entre as pessoas em um efeito manada, e evoluem para um conjunto de ações que podem destruir a economia. Neste artigo veremos algumas das piores vezes em que isso aconteceu.
A crise de crédito britânica de 1772
A segunda metade do século XVIII do Império Britânico foi marcada por uma intensa evolução da prosperidade causada pela riqueza acumulada oriunda de suas colônias ao redor do mundo. A áurea do ambiente era de felicidade e otimismo generalizado causado pela certeza de continuação da prosperidade. Como o futuro estava seguro, houve uma expansão de crédito intensa ao redor do império por parte dos bancos britânicos para diversos empreendimentos. Mas um evento pueril iria destruir tudo abruptamente.
Alexander Fordyce era sócio de um banco na Inglaterra, porém, estava endividado. Fordyce então fugiu para Paris, abandonando suas dívidas. Acontece que essa simples notícia causou pânico entre as pessoas, que imediatamente foram ao banco de Fordyce sacar suas economias. O pânico se espalhou e logo todos os bancos ingleses estavam com filas de pessoas desesperadas para ter seu dinheiro com medo de que outros banqueiros fizessem o mesmo. O desespero se espalhou logo para a Escócia, Holanda e as colônicas britânicas americanas (que viriam a se tornar os Estados Unidos). O resultado foi uma das piores crises financeiras da época, onde bancos sem depósitos, negócios sem empréstimo, e pessoas sem dinheiro faliram. Tão profunda foi a crise, que influenciou a Revolta do Chá e a Revolução Americana.
A Grande Depressão de 1929
Provavelmente você já ouviu falar dela. A Grande Depressão de 1929 é considerada por muitos economistas como a pior crise econômica da história, e não por acaso. Tudo se inicia com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em outubro daquele ano. Os anos 1920, ou, the roaring twenties (os loucos anos 20) nos Estados Unidos foram sem precedentes em acumulação de riqueza, prosperidade e efervescência cultural, no início do american way of life. Isto, claro, incluindo, a Bolsa de Valores, que acumulava supervalorizações subsequentes. As notícias de que a bolsa estava dando altos retornos financeiros logo se espalhou por toda a sociedade, inclusive as classes mais baixas inexperientes.
Em pouco tempo, todos estavam na bolsa. Mas a maioria das pessoas não eram investidores profissionais e não conhecimento técnico, estavam apenas visando ganho de qualquer forma, o que tornou a bolsa um alvo intenso de especulação. As pessoas começaram a vender e hipotecar seus pertences para comprar ações, até mesmo tomar empréstimos e ganhar com a diferença entre o valor devolvido e a valorização dos ativos.
Mas a alegria não durou muito. Os mais experientes do mercado começaram a perceber que a supervalorização da bolsa era superficial e frágil, e que os preços já estavam na margem, e iniciaram as vendas das ações. Com maior quantidade quotas, os preços começaram a cair, e isso já foi o suficiente para o pânico. Quanto mais os preços caíam, mais os investidores vendiam, criando um efeito cascata ad æeternum. Em pouco tempo, as ações viraram pó. Não existiam mais, e junto com elas, todas as economias, hipotecas e empréstimos que as pessoas usaram para comprá-las se foram. No fim de tudo, as pessoas estavam sem nada.
Depois das pessoas, os bancos foram os primeiros a falir. Sem os bancos, não existiam mais empréstimos às empresas, que também faliram. Tudo ruiu. Todos esses eventos causaram outros três problemas que afundaram mais ainda a economia: desemprego (porque as empresas faliram), excesso de oferta, que causou deflação (queda de preços) acentuada (porque ninguém podia comprar nada) e interrupção de produção.
Além dos danos econômicos, os danos psicológicos foram irreparáveis e perduraram por décadas. A crise gerou um excesso de pessimismo intenso na economia, onde ninguém mais queria produzir, empregar ou trabalhar, se apegaram nas (poucas) riquezas que ainda tinham.
A crise do petróleo de 1973–79
Plásticos, combustíveis, alimentos, tintas…sem o petróleo, quase nada existe. Agora imagine que um dia para o outro, o país tenha uma quebra de oferta e o petróleo simplesmente acabe. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos em 1973.
O contexto dessa crise se origina na Guerra de Yom Kippur, no mesmo ano, quando o Egito e a Síria invadem Israel. Os Estados Unidos, através do presidente Richard Nixon, enviam uma ajuda financeira ao país para a sua defesa, o que causou a fúria dos países árabes vizinhos. A OAPEC, Organização de Países Árabes Exportadores de Petróleo, iniciou uma retaliação cessando abruptamente não só as exportações para os EUA, mas toda a sua produção.
O golpe foi fatal na economia americana, já fragilizada. Imediatamente o preço da gasolina disparou, os estoques despencaram e a inflação galopou e chegou a quase 10% ao ano. O preço do barril quintuplicou em 2 meses. A indústria paralisou. Filas quilométricas em postos de gasolina se formaram. Não havia combustível. A economia entrou em recessão, juntamente com os juros altos, praticamente por toda a década.
A crise asiática de 1997
A década 1990 para muitos é considerada o embrião do mundo globalizado que conhecemos hoje. Muitos países emergentes começaram a se abrir e se relacionar com os mais desenvolvidos cultural, tecnologica, economica e financeiramente. Muitos países da América Latina e Ásia iniciaram sua integralização. Neste último, a Tailândia, Malásia, Indonésia e Singapura foram os principais alvos de especulação estrangeira, e receberam maciços investimentos, o que gerou uma era de otimismo e prosperidade. Como já estamos acostumados a ver, otimismo gera um grande movimento de contratação de crédito pela confiança no futuro. Nisto, muitos contrataram endividamentos.
Mas esses países asiáticos não estavam visados como alvo de investimento perene, apenas especulação, com intenso fluxo de divisas. Portanto, quaisquer que sejam as mudanças no ambiente, o investidor mudará seu alvo. E foi o que aconteceu. Mudanças externas mudaram rapidamente as estratégias de investimento. Na mesma época os Estados Unidos haviam elevado sua taxa de juros, se tornando mais atraente para rentistas. Acontece que o câmbio tailandês era fixo, até porque era até então um país imperceptível na economia global. Mas o sistema não conseguiu suportar tamanha saída de moeda estrangeira sem precedentes e o governo foi obrigado a abandoná-lo, causando o início da desgraça.
A crise financeira de 2008
A história se repete. A crise de 2008 ocorreu nos mesmos moldes do desastre ocorrido em 1929. A crise dos subprimes, como também é conhecida, se iniciou no mercado de hipotecas, comprando seus títulos para revender quando o preço dos imóveis subisse acima do normal. Mas há quem diga que o embrião dessa crise ocorreu entre 2000 e 2001, quando Federal Reserve diminuiu drasticamente o indexador da taxa de juros interna de empréstimos interbancários, o que aumentou a margem dos bancos para alavancagem.
Nisso, o crédito se expandiu amplamente pelo país, incentivando operações derivativas e o consumo sem base real de renda. Clientes com alto status e baixo risco (primes) pediam empréstimos aos bancos e criavam fundos de investimento ou empréstimos para serem vendidos a clientes de baixo status (subprimes) a taxas de juros mais altas com promessas de alto retorno, ganhando, assim, com o spread (diferença entre preço de venda e compra).
Acontece que esta prática se popularizou a ponto de todas as classes, sem instrução e experiência, se iludirem com altos retornos e começassem e investir suas economias em ativos de péssima qualidade, o que criou uma bolha iminente. Um dos alvos dessa bolha era justamente o mercado imobiliário, que já estava aquecido com a ampliação do crédito e piorou com a especulação hipotecária. Todos estavam comprando muitas casas para ganhar com a supervalorização do mercado. E pior, não com seu próprio dinheiro, mas com crédito emprestado.
Acontece que tudo ruiu ainda em 2006, quando o FED elevou as taxas de juros e desestabilizou completamente a estrutura da bolha. Agora, os empréstimos antes baratos se tornaram caros, e os tomadores não mais estavam conseguindo quitar suas dívidas, que aumentaram mais do que os ativos que haviam comprado com o dinheiro emprestado, como alguma casa, por exemplo. Além de estarem endividados, seus ativos não compensavam mais o valor que achavam que conseguiriam para pagar as dívidas e ganhar na diferença. E isso se espalhou como fogo. Todos os ativos que tinham alguma conexão com o ativo inicial, os primes, começaram a cair abruptamente de valor com todos os investidores se livrando destas antes que perdessem mais.
Não só o valor dos fundos, mas dos imóveis, veículos, títulos e ações de bancos relacionados com esses ativos. Tudo virou pó. Ademais, com todos indo à falência e consequentemente sem honrar seus débitos, algumas das mais importantes instituições financeiras dos Estados Unidos viram sua fonte de renda cessar abruptamente, além de que elas também haviam investido nesses fundos tóxicos. E para piorar a situação, o pânico levou as pessoas a irem aos caixas retirar todo seu dinheiro em espécie temendo que os bancos o confiscassem. Foi um cataclisma cíclico de eventos desastrosos.
Pessoas, empresas, governos e principalmente bancos simplesmente faliram. O pico desse desastre foi a famosa quebra do banco Lehman Brothers, sendo a maior falência da história dos Estados Unidos. O banco tinha 168 anos e possuía US$ 640 bilhões em ativos, incluindo os investimentos tóxicos especulativos que, no momento da crise, viraram pó. Sua falência foi um marco na história da economia mundial e representava o clímax da crise, cujas consequências perduraram pelos próximos anos por todo os Estados Unidos, Europa e Ásia.
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